Cinema
Análise a “The Batman” – Um filmaço de Matt Reeves
[Não contém spoilers] Este é o melhor filme de Batman, só ultrapassado por “The Dark Knight”. Pronto, agora que sabem com o que contar, permitam-me explicar porquê…
Se são daquelas pessoas que acha que Robert Pattinson é apenas o vampiro de “Twilight”, bem-vindos de volta ao mundo dos vivos. O ator não precisa de provar mais o seu talento, mais ainda assim houve quem questionasse a escolha. Este é o filme mais Batman de sempre, ou seja, a personagem mascarada assume quase a totalidade do tempo de ecrã. Se retirarmos uma cena no funeral, e se este fosse o primeiro papel de Pattinson, não iria haver muita gente a lembrar-se da cara dele no final. Além disto, o protagonista é muitas vezes um espectador para o elenco secundário expor e avançar o enredo, limitando-se a observar. Profundamente magoado com a morte dos pais, este não é um Batman amadurecido nem o detetive mais astuto. Há algo de volátil neste Bruce Wayne, como se estivesse sempre pronto a partir para a fúria. Em suma, no que é exigido ao ator, está perfeito.
Quanto ao restante elenco, é um conjunto de luxo que serve de caverna para o morcego voar. Jeffrey Wright é praticamente um protagonista por mérito próprio. Não que esteja melhor do que Gary Oldman, simplesmente o seu Gordon tem mais tempo de antena, assumindo o papel de parceiro na investigação. Zoe Kravitz não é uma “gata humana”, não tem habilidades fantásticas e comete muitos erros. Além da química com Pattinson ser inegável, é a personagem mais humana e isso permite à atriz exprimir-se. Paul Dano é puro talento. A parte calculista do plano de Riddler é observada aquando da investigação das outras personagens, as cenas do ator são a outra parte, a insanidade. Dano tem a tarefa ainda mais dificultada do que Pattinson, já que o seu rosto está completamente escondido atrás de uma máscara completa, dando-lhe ainda mais mérito. Para quem se lembra das cenas em que Joker se filma enquanto tortura as vítimas em “Dark Knight”, vai sentir alguns pontos comuns durante neste filme, em estilo e em dose de loucura. A última nota vai para Colin Farrell, irreconhecível e brilhante em todas as cenas. Longe da versão de Danny DeVito, este Penguin é um “simples” mafioso.
O grande herói deste filme, no entanto, não usa capa. Matt Reeves (Cloverfield / Planet of the Apes 2 e 3 / Tales from the Loop) escreve e realiza um filmaço que, por acaso, tem um Batman. Todos os planos são propositados e estudados (o realizador referiu em entrevistas que usou a realidade virtual para estudar as cenas antes das filmagens) e a sua visão para a personagem encaixa como uma luva. As cenas de ação não usam a armadilha do fantástico e tudo parece cru e “não coreografado”.
Palavras como “noir” serão muitas vezes repetidas para descrever o filme, mas Reeves dá camadas à noite (as únicas cenas de “dia” são sempre num ambiente muito nublado). Apesar da assumida escolha pelo escuro, nunca é difícil perceber o que está a acontecer. Em algumas alturas é explorado mais o cinzento, noutras o amarelo das explosões, noutras o vermelho e azul da discoteca… isto sem que o filme perca identidade e um estilo uniforme. A música cimenta e acrescenta à visão do realizador.
Se tivesse de acusar o filme de algo, seria na duração. Não porque as três horas custem passar, mas porque um filme mais compacto imprimia mais intensidade. Não consigo apontar algo específico que esteja a mais, já que nada parece mastigado, mas o ritmo do filme sofre um pouco em retrospetiva. O segundo aspecto negativo é…o trailer. Não vou remexer neste assunto, mas a verdade é que o estraga a surpresa de algumas cenas que teria sido fantástico ver pela primeira vez no cinema.
“The Batman” merece todos os elogios. Uma história que obriga o espectador a estar atento à investigação para não se perder na narrativa, um elenco de luxo sem elos fracos. Não há lugar para gadgets fantásticos, aliás, a tecnologia parece uma junção de Guerra Fria com steampunk. O resultado final é uma visão que vence em praticamente todos os aspetos, excepto na longevidade. Obrigatório para todos os fãs de heróis e que demonstra aos “não-fãs” que é possível fazer filmes sóbrios dentro da temática.
Nota 1 – Considerando “aquela” cena em Arkham, muito curioso por ver o antagonista da sequela já confirmada.
Nota 2 – Não há cena pós-créditos. Há apenas um “flash” de três segundos que não acrescenta nada.
Nota 3 – Não se esqueçam de visitar “www.rataalada.com“… vale a pena.
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