Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis – uma ótima surpresa para os amantes das artes marciais

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings, como título original) é o novo filme da Marvel Studios que já estreou nos cinemas portugueses. Este filme de ação é baseado na Marvel Comics, sendo que foi realizado por Destin Daniel Cretton e produzido por Kevin Feige e Jonathan Schwartz com Louis D’Esposito, Victoria Alonso e Charles Newirth como produtores executivos, em que o realizador foi também responsável por escrever o guião, juntamente com David Callaham e Andrew Lanham.

O elenco é constituído por Simu Liu (Shang-Chi), Awkwafina (Katy), Meng’er Zhang (Xialing), Fala Chen (Li), Michelle Yeoh (Jiang Nan), Tony Leung (Wenwu), Florian Munteanu (Razor Fist), Ronny Chieng (Jon Jon) e Benedict Wong (Wong).

Nesta história de origem, Shang-Chi é um jovem super-herói que terá de enfrentar o passado que ele julgava ter deixado para trás, quando é atraído para a teia da misteriosa organização Dez Anéis que tem como líder o seu pai, o temível Xu Wenwu ao mesmo tempo que ele passa por uma jornada de autodescoberta, onde terá de aprender a aceitar cada parte de si mesmo para assim, ter a capacidade de atingir todo o seu potencial. Afinal qual é a ligação de Shang-Chi com os Dez Anéis?

Um novo herói vai ser apresentado, mas antes disso acontecer, Shang-Chi tem um caminho longo a percorrer com algumas dificuldades pelo meio. Para além disso, temos a oportunidade de saber mais sobre os Dez Anéis e da organização com o mesmo nome.

Pode conter spoilers!

Shaun ou Shang-Chi é um jovem que foi treinado em artes marciais desde a infância tanto pelo pai, Wenwu como pela organização dos Dez Anéis. Estamos a falar de treinos duros e intensivos que Shang-Chi suportava para aprender a lutar e para se tornar num assassino eficaz e implacável e assim, seguir com os planos que o seu pai tinha para ele, como por exemplo, o substituir como líder dos Dez Anéis e eliminar a pessoa responsável pela morte da sua mãe. Porém, ele começa a perceber que a sua figura paterna não era quem ele pensava que seria e este adolescente resolve afastar-se completamente, fugindo para começar uma vida a partir do zero.

Durante 10 anos, Shaun vive uma vida tranquila em São Francisco, nos Estados Unidos da América, onde tem um trabalho cuja função é estacionar carros e tem uma amizade de longa data com Katy que também trabalha no mesmo sítio. Mas tudo está prestes a mudar! Um dia durante o percurso para o seu emprego, ele é atacado num autocarro de um modo intenso e violento por homens que Shaun acredita que possam ter sido enviados por razões incertas pelo seu pai que é o verdadeiro Mandarim. Assim, as suas capacidades de luta são colocadas à prova e dá para perceber que ele não esqueceu nada daquilo que aprendeu desde criança e que se mantém um excelente lutador.

Por isso, Shang-Chi tem um propósito para cumprir que é impedir os planos do seu pai e da sua organização misteriosa e também de enfrentar este mundo que coloca o lar da sua mãe em risco, a aldeia mística de Ta Lo, mas primeiro ele tem de viajar até Macau para avisar a sua irmã, Xialing, que corre perigo enquanto que ao mesmo tempo procura por respostas.

Shang-Chi não vai passar por esta jornada com conflitos sozinho, pois estará na companhia de Katy, a sua melhor amiga bem dedicada e ferozmente leal com espírito livre e despreocupado que diz aquilo que pensa sem filtros e que também tem um caminho a percorrer. Para além disso, também acontece o reencontro entre Shang-Chi e a sua irmã Xialing, em que esta tem uma escolha nas suas mãos entre a vida solitária que construiu para si própria, depois de ter fugido do seu pai quando era uma adolescente, ou juntar-se ao seu irmão na luta contra a Organização dos Dez Anéis. Tanto Shang-Chi como Xialing têm de lidar não só com os traumas causados pela morte da mãe de ambos, mas também com o afastamento e a indiferença do pai deles. No caso de Xialing, ela sempre teve um relacionamento complicado com o pai que nunca lhe deu atenção, chegando a um ponto que ela aprendeu a lutar sozinha, porque observava os outros e mais tarde, criou o seu próprio império, tornando-se numa mulher ambiciosa que esconde o seu lado mais vulnerável.

O filme explora as relações familiares, principalmente entre os pais de Shang-Chi e a relação destes com os seus filhos. A história é também contada através de cenas de flashbacks bem inseridas que estão relacionadas com a infância de Shang-Chi e respetivo treino, as histórias que contam um pouco do passado desta família e também com situações que estão a acontecer no presente e que chegam a encaixar-se perfeitamente, fazendo assim todo o sentido quando determinadas cenas estão a ser mostradas no momento.

Como referido anteriormente, Wenwu é o líder dos Dez Anéis, uma organização que passa despercebida e atua de um modo discreto, sendo que ele que ocupa essa posição há milhares de anos e é conhecido por vários nomes, um deles é o Mandarim que tem motivações muito fortes para se tornar num bom vilão desta história, pois ele nunca aceitou bem a morte da sua mulher que era uma mãe delicada e cuidadosa que ensinou lições vitais que irão ser úteis no futuro dos filhos e também foi a responsável por algumas mudanças na personalidade complexa de Wenwu.

Esta produção consegue finalmente dar-nos respostas mais concretas sobre o verdadeiro Mandarim, um dos maiores vilões da MCU que possui os dez anéis que são uma arma poderosa que fornece a vida eterna. Ao longo do filme são exploradas as suas origens e as suas motivações, em que os efeitos do luto, da raiva e da dor podem fazer com que a pessoa possa cometer atrocidades e também esclarece algumas das coisas que foram referidas no filme do Homem de Ferro 3 (2013) que não tinham causado uma boa impressão para a audiência.

Uma coisa muito boa nesta história é o facto de focarem em relações bem reais não só entre membros da mesma família, mas também entre amigos. Um desses exemplos é a relação de amizade bem forte entre Shang-Chi e Katy que mostram uma química evidente que é ótima. Contudo, o público cria uma ligação imediata com esta dupla que nos proporciona momentos bem divertidos e que nos faz querer torcer por eles, principalmente devido ao humor natural e bem pertinente de Katy que manda bocas que te deixam a pensar e que têm a sua piada. Katy é simpática, engraçada, leal e a parceira de Shang-Chi ao longo da jornada deste herói e é daquelas personagens que se destaca à sua maneira, sendo a responsável por algumas das partes mais leves desta produção.

As cenas de luta são extraordinárias, inacreditáveis e são mesmo o grande destaque do filme. Estas são repletas de coreografias espantosas e impressionantes que mostram a beleza ou até mesmo a simplicidade das artes marciais e complementando com efeitos visuais deslumbrantes, maravilhosos e bem trabalhados.

As sequências de ação são cativantes, brilhantes, incríveis e alucinantes. São filmadas com uma criatividade notável apresentando ângulos de câmara inovadores e utilizando técnicas diferentes de filmagem e que não deixam ninguém indiferente com as suas lutas bem fantásticas que são um espetáculo digno de se ver e extremamente muito bem coreografadas, sendo constituídas por movimentos rápidos e golpes bem criativos e realistas que se transformam numa autêntica obra de arte com uma excelente qualidade.

Na minha opinião, este filme com drama, comédia e repleto de ação é composto pelas melhores cenas de luta que eu vi até hoje que dá para se perceber que tem uma inspiração e traz referências a filmes relacionados com as artes marciais. Uma das melhores cenas de luta que é importante destacar é sem dúvida, aquela que ocorre num autocarro que está a movimentar-se a uma velocidade elevada e instável, devido aos obstáculos que vão surgindo ao seu redor, sendo que tudo foi realizado ao mínimo pormenor, criando assim, lutas mais elaboradas com ritmos diferentes que trouxe um impacto muito positivo para o público que está a assistir.

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis explora um novo horizonte para este universo bem extenso, introduzindo novas personagens, lugares, valores, conceitos e histórias que se encaixaram facilmente na MCU, sendo constituído por um elenco bem escolhido e maioritariamente asiático com personagens bem desenvolvidas, em que este grupo de atores representou uma cultura que ainda não tinha sido mostrada pela Marvel. Existe um comprometimento para com esta cultura que foi retratada com respeito e delicadeza pela mesma e apresentando os detalhes com todo o cuidado que são necessários para obtermos mais conhecimento sobre esta comunidade asiática. Para além disso, a pessoa fica apaixonada por esta cultura e ainda mais pelas artes marciais.

Esta foi uma decisão inteligente de abordar a mitologia chinesa e as respetivas lendas antigas e celebrar a riqueza da cultura asiática de uma forma bem real, simples e pertinente, sendo que foi uma representação bem própria com referências que faz lembrar alguns clássicos de filmes asiáticos e apresentando uma homenagem evidente ao cinema chinês e com uma fotografia lindíssima que mostrou a beleza desta cultura, transformando-se assim, num símbolo para este povo e com vistas sublimes e uma boa banda sonora que contém músicas que ficam no ouvido e é introduzida nas alturas certas.

Parece que já tínhamos visto tudo aquilo que a Marvel nos podia oferecer, mas não é bem assim. Este filme tem uma das melhores histórias de origem do universo da Marvel que tem um argumento fluído que consegue entreter e envolver o espetador, sendo que consegue identificar-se facilmente e criar uma empatia imediata com as suas personagens fortes e carismáticas, em que cada uma brilhou à sua maneira. E também nos mostra algo completamente novo, em que o protagonista é pela primeira vez de origem asiática que entrou a arrasar de um modo bem próprio com Simu Liu a interpretar este herói promissor com carisma e convicção que sem dúvida, é uma personagem que tem potencial suficiente para se tornar numa grande adição para o futuro da MCU.

Este é um projeto bem diferente daquilo que a Marvel nos apresentou até agora e que merece todo o reconhecimento. É sensacional e extremamente interessante que apresenta o lado mais místico da Marvel dando assim, a oportunidade de conhecermos um mundo novo e misterioso que parece ser relativamente familiar e está repleto de possibilidades infinitas, onde não se sabe o que esperar. Contudo, o que não vai faltar são animais fantásticos e místicos, artefactos e flechas mágicas e dragões que tem pelo meio um toque de mitologia e fantasia que dá um ar mais refrescante à MCU.

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis tornou-se num dos meus filmes favoritos da MCU e é uma aposta excelente e perfeita da Marvel que eu afirmo que conseguiu superar as expetativas e prender a atenção desde o início até ao fim, principalmente aos amantes das artes marciais como eu que vão ficar imediatamente cativados, sendo que tem um humor mais descontraído que é introduzido nos momentos certos e o resultado final funciona perfeitamente no modo como tudo vai sendo produzido e organizado a um bom ritmo e que vale ressaltar a qualidade elevada a nível técnico como é o caso dos efeitos especiais muito bem realizados. Este é um filme com uma arte própria que está cheio de surpresas em que mistérios e segredos que são revelados vão-se tornar num sucesso garantido e que vai marcar a história da MCU. Uma coisa é certa! A Marvel não desilude e continua disposta a arriscar, a cumprir com aquilo que prometeu e a surpreender a níveis que eu achei que não seriam possíveis.

Como seria de esperar, há muitas referências em Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis para os fãs “colecionarem”. Aqui ficam apenas dez!