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BD & Literatura

The Times I Knew I Was Gay – A autodescoberta e aceitação do “eu”

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The Times I Knew I Was Gay

A vida é feita de rótulos. Desde que começamos a ter consciência do que é o “eu” que tentamos descobrir e encaixar na dita sociedade. The Times I Knew I Was Gay é um livro, em formato de novela gráfica, que trabalha esta questão de nos descobrirmos e de não ter medo da diferença.

A sociedade está feita para seguirmos certas regras, no entanto, algumas delas não são propriamente as mais lineares. A vida não é preto no branco e ela não pode ser vivida apenas com essas cores. Este livro fala disso. Ellie desde pequena que se sente diferente e nem se sentia mal por isso. Gostava de ser diferente. Gostava de marcar pela diferença. Com o grupo de amigos à sua volta, Ellie conseguia sentir-se bem com ela própria.

Acho que uma das coisas que mais gostei, foi ver como ela se sentia ao ver com as amigas Buffy – A Caçadora de Vampiros e do quanto gostava da personagem Willow. O ambiente que ela vivia era propício para que ela se sentisse bem com ela própria. Contudo, o liceu aconteceu.

A armadura preta e rosa

A mudança consegue ser difícil. Especialmente quando não temos o nosso grupo à nossa volta. A maturidade (ou falta dela) dos adolescentes é sempre algo que pode intimidar. Ellie assim que entrou na nova escola tentou arranjar forma de se conseguir manter fiel a ela e também ao seu estilo punk: o preto e o rosa.
Acho que, apesar das armaduras que coloquemos, acho que este ponto de irmos crescendo e começar a ver a diferença como um problema é uma das problemáticas assente no livro. É este querer ser aceite no novo grupo de amigos. Conseguir sobreviver ao liceu.
No final, ela via-se com duas personalidades: a verdadeira Ellie que apenas conseguia ser ao lado da família e amigos; e a Ellie que era com as colegas da escola na qual tinha de ser totalmente diferente de quem era na realidade.
Acho importante ressalvar que apesar de tudo, a nossa protagonista consegue ter a família e amigos ao seu lado e, apesar de ela própria não saber onde se inserir, ela consegue ter um bom apoio emocional.

O mundo dos relacionamentos

Ao longo do seu crescimento, Ellie vê as amigas da escola com interesses por rapazes. Acho interessante. Nem toda a gente é igual e nem todos temos de gostar do mesmo, a vida seria extremamente aborrecida se todos gostássemos do mesmo, no entanto, tendemos a querer ter algumas semelhanças com os outros apenas para nos conseguirmos incluir.
Ellie dizia-se interessada por rapazes, mas na realidade as suas experiências não demonstravam sequer interesse para algo mais do que realmente a amizade (mesmo que ela estivesse num relacionamento). É interessante verificar os seus próprios pensamentos durante a novela gráfica.
Um dos momentos interessantes foi o explicar os próprios passos sobre como namoriscar com rapazes. É curioso o tópico em que ela explica como se sentia depois quando percebia que o aparente sentimento era recíproco. Acho que se consegue relacionar com o que a autora, Eleanor Crewes, está a querer transmitir.
Aquela dita atenção de querer ter um namorado levou a que, no meio de tanto relacionamento, Ellie se perdesse. A própria via-se a perder a própria essência e depois… o que realmente restava da verdadeira Ellie?

A dificuldade de se autodescobrir

A certo ponto de The Times I Knew I Was Gay, Ellie fala diretamente com o leitor, chegando mesmo a quebrar a quarta dimensão. Quando se fala sobre o percurso da autodescoberta é difícil quando pensamos no nosso “eu” passado. A protagonista afirma exatamente saber quem é naquele momento, mas quando era mais nova? Era tudo mais complicado.
Durante uma parte do livro vemos Ellie a falar com as amigas sobre a sua homossexualidade. Uma das coisas que mais gostei foi o apoio indiscutível do grupo e da menção a Buffy – A Caçadora de Vampiros que tinham visto há anos. Algo reconfortante e que trazia sempre um conforto à nossa protagonista.
É interessante a bordagem da autora sobre o voltar a mentir sobre quem realmente são, mas sobretudo para eles próprios. Acho extramente interessante a quantidade de vezes que Ellie exprime a sua orientação sexual, no entanto, nunca o fez para si. Nunca absorveu as suas palavras. Ela não tinha tido essa conversa consigo própria e chegar a um acordo sobre como se sente. Ela contou primeiro às amigas e tem o apoio incondicional delas, mas de certa forma, ela também que tem de percorrer esse caminho sozinha.

Ela vê laranja

A uma altura do final do livro, é perguntado à Ellie o que é que ela vê quando pensa na sua infância. A resposta é laranja: “Laranja como o meu cabelo – laranja como o sol visto de olhos fechados”. Acho interesse a menção à cor. Vi este tópico como o entender de como ela se vê realmente. Ela vê-se a si, Ellie. Apesar dos altos e baixos, sempre se viu a ela.
É este entender de que não tem mal em ser diferente. Porque a vida a não é a feita para ser pintada de preto e branco. Vale muito mais quando temos um arco-íris.

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Tem 25 anos e veio de cultura e comunicação. Adora cultura pop, é viciada em spoilers ao ponto de ir ver as últimas páginas dos livros. Para ela, Team Marvel é que é.

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