Batman Day: Miguel Mendonça, de Olhão para Gotham

O Miguel Mendonça é um artista português, de provas dadas internacionalmente, e que trabalha frequentemente com a DC. Apesar de ter começado com a Wonder Woman, não escapou por muito tempo ao olhar vigilante do Cavaleiro da Noite. O Miguel já esteve presente na Comic Con Portugal e, a propósito do Batman Day, pedimos que nos falasse um pouco da sua experiência em trabalhar com o herói.

Como surge a oportunidade de trabalhar nesta propriedade? Era um sonho pessoal?
Sim! Desde que comecei a perseguir o sonho de trabalhar profissionalmente em comics, que um dos grandes objetivos era trabalhar para as maiores editoras americanas. Depois de alcançado esse objectivo, com a DC Comics, o objectivo seguinte era trabalhar com as mais icónicas personagens da editora, e o Batman era obviamente uma delas.

A oportunidade de trabalhar com a DC surge numa altura em que já estava a trabalhar para o mercado americano de banda-desenhada, numa pequena editora chamada Zenescope. Aqui fiz parceria com uma autora , Meredith Finch, que estava na altura a trabalhar também com a DC. O convite surgiu através dela, no final de 2015, com o livro Wonder Woman. Depois disso comecei a trabalhar em diferentes livros da editora, e logo em 2016 tive algumas oportunidades de desenhar a personagem, que aparecia temporariamente em histórias dos Teen Titans, ou Green Lanterns.

A oportunidade de trabalhar num livro totalmente dedicado ao Batman surgiu em 2017 quando desenhei dois números do livro Detective Comics com o autor James Tynion IV . Em 2018 fiz também uma pequena run chamada “On the Outside” no mesmo livro, desta vez em parceria com o autor Bryan Hill. Fiz também vários livros com equipas que continham o Batman, como JLA e Justice League: Last Ride. Recentemente trabalhei também em algumas back-stories do livro principal do mesmo, com o autor Chip Zdarsky.

Qual foi a maior dificuldade particular em trabalhar nestes comics?
Desenhar o Batman é relativamente fácil, especialmente comparado com outras personagens, como por exemplo o Superman, pelo simples facto de ser um herói mascarado, e a máscara acaba por facilitar por ser bastante simples. Além de que, regra geral o tom das suas histórias envolvem muitas cenas nocturnas, ou em becos escuros, o que envolve muitos jogos de contraste, com bastantes sombras à mistura, o que ajuda.

Portanto a dificuldade, para mim, não está na parte técnica de desenhar a personagem e sim na psicológica. É que trabalhar numa propriedade com tanto alcance e história como o Batman implica uma pressão mais forte que é posta sobre o trabalho. Esta pressão é muitas vezes auto imposta, com a tendência de comparar o nosso trabalho ao de todos os outros artistas que trabalharam com a personagem ao longo de décadas de histórias icônicas. Não é algo muito falado pelos autores, mas acho que pode afetar muitos artistas que são apanhados de surpresa por esse sentimento. O truque, na minha opinião, é tentar não pensar muito nessa parte e focar-nos no desenho em si.

Qual foi a curiosidade sobre o universo da personagem que mais te surpreendeu enquanto trabalhavas na banda desenhada?
Assim de repente, achei interessante esta curiosidade sobre os hábitos de sono do Batman, enquanto trabalhava na banda-desenhada Justice League: Last Ride:
– “Posso adormecer em 7 segundos e apenas preciso de 2 horas”.
– “Eu não sonho, a não ser que assim o decida”.

Qual é o teu Batman favorito?
Tenho vários, é difícil escolher um, mas tenho tendência para desenhar as versões que gosto mais, diria que talvez uma versão do Batman Ano Um do Frank Miller e Mazzucchelli, com o fato e logo simples e sem o círculo amarelo ao peito. No cinema, o primeiro de Tim Burton e Michael Keaton, tem um lugar especial no meu coração. Mas também gosto muito dos dois mais recentes, com os atores Christian Bale e Ben Affleck.

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