Cinema
Asteroid City: A simetria da peculiaridade
Se a presente crítica de Asteroid City se escrevesse por influência da mente brilhantemente colorida de Wes Anderson, poderíamos dividir esta análise em três atos diferentes.
Muitos falam da sua ousadia, outros da arrogância e até do contínuo uso da simetria a cada frame, mas é indiscutível que pelas mãos de Anderson, as histórias ganham uma película própria incapaz de comparações baratas dentro da era cinematográfica em vigor.
Acto I – Um evento peculiar
Viajamos até aos anos 50, por uma cidade situada no deserto, onde está a ser organizada uma pequena convenção espacial júnior que se prepara para receber vários estudantes e respetivos pais: tudo com o objetivo claro de conseguirem uma bolsa de estudo científica. Contudo, tal comemoração/competição é interrompida por um evento peculiar.
É com esta pequena sinopse curiosa que o realizador apresenta um elenco de luxo capaz de representar o guião de diálogos e silêncios, escrito por si e Roman Coppola, com a excelência requerida.
“Freight train, freight train, goin so fast”
Acto II – A diva e o viúvo
Sobre o elenco, seriam precisas diversas linhas de enumeração porque até o talento com menos tempo de ecrã, merece o mais alto dos louvores, como é o exemplo de Margot Robbie – a futura Barbie de Julho.
Entre chegadas cheias de entusiasmo, a confusão organizada fixa-se entre um restaurante e um alojamento local, trazendo Augie Steenbeck (Jason Schwartzman), um viúvo acompanhado pelos seus três filhos, Midge Campbell (Scarlett Johansson), a diva de Hollywood que se faz acompanhar pela filha egocêntrica, Dinah (Grace Edwards), e a professora June Douglas (Maya Hawke) com a sua turma infantojuvenil.
Há tanta força de intenção no diálogo como através de silêncios e panoramas preenchidos por um visual retro, e é entre a estranheza química de Midge e Augie que devoramos cenas que exploram o luto e a autodescoberta do ser, tudo entregue por intermédio de um estilo único e inconfundível de filmagem.
“You can’t wake up, if you don’t fall asleep.”
Acto III – O humor da cratera
Digno de um humor opaco e tom singular, este filme retrata a história dentro da história. Uma exibição de camadas espirituais e herméticas passadas à volta – e dentro – de uma pequena cratera de asteroide, numa experiência de cinema invulgar que nos permite vaguear pelas dúvidas existenciais do que vivemos diariamente sem certezas de que será possível chegar ao fim de Asteroid City, e entender a sua verdadeira essência.
“I still don’t understand the play.”
“Doesn’t matter. Just keep on telling the story.”