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Cinema

O Homem do Norte – Análise

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Alexander Skarsgard reencontra Nicole Kidman de Big Little Lies, volta a ser Northman depois de Eric de True Blood, e propõe-se contar uma história que inspira Hamlet… mas apesar disto, tudo neste filme é original!

 

Vingar o pai, salvar a mãe, matar o traidor… seria fácil reduzir Northman a elementos mais básicos. Mas todo o talento à frente e atrás das câmaras tornam-no numa lufada de ar fresco. Este não é um Tarzan Viking, que Skarsgard também protagonizou em 2016. As cenas em que o vemos com os abdominais desenhados “à mão” representa apenas uma minoria, tudo o resto é uma batalha interna de um homem de uma só missão. Um homem que deixou que o passado moldasse o presente e só vê um futuro capaz de lhe trazer finalmente paz. Mas tal como a vida o catapultou em criança, agora também lhe muda os planos, confrontando-o com a escolha entre a vingança e o amor. Os momentos iniciais são a traição familiar, um momento de união entre pai e filho com recurso a “fumos mágicos” e uma batalha que mostra o protagonista a tirar o sopro a tudo o que tem uma arma na mão. Está montado o ambiente, caso alguém tivesse entrado na sala ao engano…

 

A cultura Viking demonstrada no filme atinge um nível de crueldade e frieza que nem os fãs da série “Vikings” estão acostumados. Aliás, o único outro meio de entretenimento que se lhe compara é o incrível “Hellblade: Senua’s Sacrifice”. Mais do que sangue, é o sacrifício humano e o desprezo pela vida dos escravos, a maneira como a vida humana balança entre o valioso e o descartável. Mas onde o filme realmente se distingue de centenas de outras epopeias de vingança, protagonizado por um tipo com músculos inflamados, é na genialidade de três recursos: a escrita, a cinematografia e o fantástico.

A roçar constantemente o teatral, o discurso varia entre o direto e o floreado, em que se diz dez palavras quando duas chegavam. Este exercício mantém as performances e a história junto à terra, quando a brutalidade da violência ou o uso ao sobrenatural nos tentam para o facilitismo da história que o filme se compromete contar. A cinematografia, que Robert Eggers teima em manter uma cunha original, faz o oposto e brinca com a luz/sombra e as cores. A árida Islândia tem prados verdes e vulcões vermelhos furiosos que interpolam cenas fechadas em cabanas. Não é necessário haver falas quando tudo o que nos é mostrado tem algo a acrescentar.

 

Onde o filme se permite “sonhar” é no recurso ao fantástico, com cenas “alucinogénicas” sem que haja alguma vez o abandono total da realidade. Esses momentos servem mais para acrescentar tensão e espetacularidade ao banal, como que se o realizador nos quisesse constantemente surpreender com o que pode ou não acontecer na trama previsível. As alucinações e a religião/mitologia Viking são como sal e a pimenta de tudo o que acontece, ou seja, caso todas essas cenas fossem cortadas, sobrava na mesma um filme completo, apenas menos apetitoso.

 

Não referi (ainda) o elenco porque, sinceramente, nem vale a pena. Não há uma alma que manche este pano, onde até Bjorn nos brinda com magia. O destaque vai talvez para uma Nicole Kidman vem mais “liberta” do que a tenho visto ultimamente. Mas toda a gente envolvida neste filme é um mestre do engenho… é só deixá-los trabalhar.

 

The Northman é por vezes contemplativo, não apresenta uma história radical ou até original, mas o espectador fica tão emergido que nem sente as duas horas e vinte passar. É um filme que poderá levar ao engano quem está à espera de um “Braveheart” ou de um King Arthur de Guy Ritchie, assim como não é também o filme de sangue e entranhas como o trailer o demonstra. É uma peça de teatro, local no que toca à ação, mas com a beleza visual que o cinema permite acrescentar. Apesar de sabermos o que vai acontecer, surpreende e agarra com beleza e tensão. É um filme que não deve ser desprezado e muito menos simplificado.

 

PS- Chego ao fim e percebo que não disse nada de mal sobre a película que me propus analisar…bom, deixa cá pensar em algo… o sotaque de Anya Taylor-Joy às vezes é muito cerrado e parece uma caricatura de um russo feita por um comediante. Pronto, assim já podemos todos dormir mais sossegados!

 

 

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