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Final de Wandavision: E agora?
A pergunta que se impõe agora, e que de certeza invade a mente de quem perde tempo com teorias do Universo Marvel é… e agora?
Penso não estar a ser injusto se disser que o entusiasmo por Wandavision não estava nos pícaros. Há muito que o duo protagonista é importante nos Avengers, mas dizer que o tempo de antena que lhes foi atribuído até então é equivalente a um tier secundário talvez seja sobrevalorizar. Não fossem aqueles momentos em Infinity War e o romance seria até uma total novidade. Mas é essa a maravilha da televisão, um aprofundamento que só o tempo permite. Para além disso, os fãs não sabiam bem o que esperar de uma série com a temática de sitcoms do século passado. É verdade que o mistério e a surpresa assolam o MCU como uma sombra no meio do deserto, mas no que toca ao estilo, os fãs sabem o que esperar. Com Wandavision não. Vai ser sempre preto e branco? Vai ser sempre uma sitcom? Porquê? O que há para contar aqui se Vision está morto? O que há a acrescentar aqui?
Não só Wandavision conseguiu mostrar mais uma vez que o formato de série semanal está para as curvas, como prova que dentro deste fantástico, sobrenatural e mágico também é possível a história, sofrimento, pesar e amor. Pra além de permitir Elisabeth Olsen brilhar (sem nunca esquecer Paul Bethany), estes nove episódios mostraram uma criatividade e frescura ao nível de Thor Ragnarok, o que é sempre muito bem recebido quando há tanto conteúdo “copiar/colar”. Da música à cinematografia, tudo respirou o momento histórico que os episódios pretendiam retratar, com pequenos vislumbres de mistério contemporâneo aqui e ali.
Provavelmente foi pura coincidência, mas é curioso que Wandavision e Wonder Woman tenham explorado o mesmo dilema: estarão estas personagens femininas de grande poder dispostas a abdicar da própria felicidade pelo bem maior? Poderá argumentar-se que no caso da Marvel a responsável foi a própria heroína e não uma força maligna (apesar de ela parasitar na desgraça), mas em ambos a temática é a perda. Engane-se então quem pensa que o vilão desta temporada é qualquer outra entidade. Agatha é como qualquer outra antagonista dos filmes: não muito aprofundada e sedenta de mais poder, porque sim. É verdade que Kathryn Hahn encantou e acrescentou camadas a uma personagem que poderia ser banal, mas este não é o seu show. O foco é sobre o sofrimento de Wanda e de que modo lidou com essa dor.
A perda e o sofrimento pode criar uma bolha à nossa volta, podemos criar uma realidade que protege, mas isola e não permite que processemos a origem da dor. A única diferença aqui é que Wanda é uma feiticeira “tocada” por uma Infinity Stone… A série nunca faz uma desfeita à personagem em torná-la excessivamente sentimental ou irracional, é apenas uma pessoa a lidar com o sofrimento. Uma nota ainda para a sexualidade da personagem: não esqueçamos que inicialmente Wanda tinha um decote magicamente revelador, mas o que vemos em Wandavision é uma personagem feminina, capaz de manter a sua sensualidade sem precisar de recorrer a extremismos. Pode ser algo descartável, mas há algo profundamente feminista no facto de Wanda lutar grande parte do tempo com um “fato de treino” neste final. De certeza que não foi uma decisão aleatória.
No que ao futuro diz respeito, honestamente não vejo Wanda a tornar-se numa vilã na Fase 4, ou mais tarde. Não porque pense que Olsen não esteja à altura ou a personagem não pudesse ser uma adversária à altura, simplesmente porque penso que a Marvel está cheia de vilões por explorar ainda. Além disso, o arco de redenção de Wanda é bem mais interessante que um arco antagonista e não me parece que Feige investisse numa série assim para depois a “demonizar” mais tarde.
Podemos então dizer que este pre-Doctor Strange foi um completo sucesso? Não. Claro que há coisas a apontar. Principalmente o último episódio parece-me algo apressado, com edições de imagem repentinas e uma enorme vontade de adicionar espetáculo visual e confronto “galáctico” a uma história até então intimista. Pode-se argumentar que a série não precisava do fogo-de-artificio para ser memorável. Mas é preciso lembrar também que este é um produto Marvel e este tipo de situações não deveria suscitar tanto espanto. Para o bem e para o mal, é tradição embrulhar o presente com o martelo.
Pode-se também argumentar que houve coisas que ficaram por explicar, de propósito. Sabemos que não haverá segunda temporada e sabemos que há arcos demasiado banais para figurar no Universo Cinematográfico posteriormente. Por isso ficamos sem resposta sobre o paradeiro do White Vision, quem era a testemunha que o agente Woo procurava originalmente em Westview e como conseguiu a S.W.O.R.D reparar o centro neurológico de Vision sem Wakanda. Se os filhos de Wanda são um fruto da sua imaginação, como poderão continuar vivos depois de colapsada a realidade alternativa? Há ainda o caso de Ralph Bohner, que talvez seja a maior água fria. Ou se tratou de puro trollismo por parte dos criadores, ou haverá muito acrobatismo para explicar a relação Fietro/Quicksilver. Porque se ele é simplesmente uma personagem aleatória (e não a testemunha de Woo, de algum modo ligada aos X-Men), de que modo usarão o mesmo ator na integração das novas personagens no Universo? Parece-me ter havido uma vontade enorme em alimentar especulações e conversas sobre a série e pouca preocupação em atar o nó no final.
O que Wandavision fez com imensa qualidade, e de certo modo continua a fazer, é por-nos a especular sobre ela. Conseguiu entreter-nos em altura de pausa cinematográfica com mais conteúdo Marvel e manter tudo “fresco”. Veremos de que modo Falcon and the Winter Soldier acrescentará paginas a esta enciclopédia, porque a verdade é que será difícil fazer melhor que Wandavision…
Nunca antes este Universo esteve preocupado com a divisão de atenções entre televisão e o cinema (e não, as séries Netflix não contam aqui) e estou bastante curioso em saber de que modo é que Feige e companhia vão encaixar Tv e Cinema. Se por um lado foi bastante óbvio que esta série foi criada para pessoas que sabiam a história até então, pergunto-me se o público de Dr. Stange deverá estar a par destes nove episódios para perceber todas as referências.
Publicado por: Vítor Rodrigues
Um dinossauro no mundo das séries. Coleciona Blu-Rays, adora Legos, completa jogos a 100%, devora podcasts e ama tudo que envolva não sair de casa.