Cinema
“A Substância” – Uma Crítica Poderosa A Hollywood
O novo filme “A Substância” teve a maior ovação de qualquer filme alguma vez passado no festival de Cannes e por bom motivo!
“A Substância” é obviamente um filme de terror, mas é muito mais profundo que sangue e sustos, é uma crítica profunda à indústria de entretenimento, e à cultura de beleza moderna.
Esta é a história de Elizabeth Sparkles (Demi Moore), uma atriz já de meia-idade que tem o seu próprio programa de aeróbica mas que no dia em que faz 50 anos é despedida e a sua vida entra numa espiral negativa.
O seu produtor (Dennis Quaid), um homem de meia-idade sexista, pervertido e superficial, diz-lhe com um sorriso que a partir dos 50 anos as mulheres estão acabadas em Hollywood, que ao envelhecerem perdem todo o valor. O uso de Moore para este papel bate fortemente, visto que mesmo com 60 anos de idade, esta actriz continua a ser um ícone de Hollywood e uma beldade incrível.
Após um acidente de carro, a cereja no bolo deste dia terrível, um enfermeiro discretamente diz a Elizabeth para experimentar a “substância”, que irá mudar a sua vida, e dá-lhe uma pen com a informação para obter este produto milagroso.
O anúncio na pen promete que a “substância” criará uma versão mais jovem e melhor de si, mas não é nada do que aparenta ser.
Através de um sistema muito secreto e anónimo de mercado negro, Elizabeth encomenda a “substância” e assim que a toma, as suas costas rasgam-se e uma versão duplicada e muito mais jovem dela emerge e adopta o nome Sue (Margaret Qualley).
Ambos os corpos partilham a mesma consciência e têm de trocar entre si a cada 7 dias para impedir que apareçam efeitos secundários horríveis.
Sue rapidamente toma o lugar de Elizabeth com o estúdio e ganha o seu próprio programa de aeróbica super sexualizado, subindo rapidamente à fama enquanto a Elizabeth original definha e começa a odiar a sua aparência mais e mais até ao ponto de não sair de casa.
Infelizmente, apesar dos repetidos avisos dos fabricantes da “substância”, Elizabeth começa a ver-se a si e à Sue como entidades separadas, levando a ciúme, traição, abuso, e violência contra si própria. Uma perfeita metáfora para o modo como a indústria da beleza corroi a autoconfiança das mulheres e faz odiarem-se a si próprias por não conseguirem acompanhar padrões impossíveis impostos pela sociedade.
Um filme verdadeiramente perturbador e sangrento, as cenas finais são quase ridículas na sua quantidade de sangue mas de uma maneira cinematicamente positiva e emocionalmente avassaladora. É uma imagem poderosa dos extremos a que as pessoas estão dispostas a ir pela sua aparência, do quanto estão dispostas a mutilar-se por padrões de beleza passageiros.
Já para não falar de como a nudez explícita é usada ao longo da história tanto para demonstrar sexualização como para expor vulnerabilidade, pintando um quadro de como as mulheres são vistas e de como se veem a si próprias.
Até em termos de cinematografia, este filme consegue ser curiosamente original e cria um ambiente profundamente stressante e perturbador com uma ênfase enorme em super close-ups exagerados, detalhes e imperfeições hiper realistas, fundos simplistas e desconfortáveis, música enervante que cria um arrepio pela espinha, e muita atenção dada a um excesso de sons de fundo estilo ASMR que são revoltantes o suficiente para gerar (propositadamente) nojo em qualquer espectador.
Como um bónus, não existem muitos efeitos CGI neste filme, quase tudo são efeitos práticos, maquilhagem, e próteses que mostram o verdadeiro talento, esforço e alma por detrás deste projecto.
Uma verdadeira obra-prima independente da escritora e directora Coralie Fargeat, com um elenco impressionante e uma mensagem feminista poderosa e necessária.
“A Substância” já está nos cinemas e é um filme de Halloween a não perder para todos os fãs de terror e ficção científica.