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“Sherlock” não é uma questão de escolha…

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Só há dois momentos na vida de um homem em que as palavras podem escassear: quando algo é tão
bom que são poucos os adjetivos que lhe fazem jus e quando algo é tão incrivelmente extraordinário que custa até acreditar na sua própria existência. Quando o tema é “Sherlock”, podemos inseri-lo na segunda categoria, até porque a interpretação personagem principal nem dá tempo para pensar em muitos argumentos.

Apesar disso, há perguntas que podem e devem ser colocadas, questões pertinentes que
vão esclarecer qualquer tipo de dúvida que a tua mente possa ter, face a um dos melhores produtos de
entretenimento alguma vez produzidos:
És amante de séries?
Se a resposta é não, estás no local errado. Deves saltar imediatamente para a pequena cruz no canto
superior direito do ecrã e clicar com toda a força, várias vezes e com convicção. Se a resposta for sim,
estás entre duas categorias: pré-“Sherlock” e pós-“Sherlock”. És um daqueles seres iluminados que já
teve a oportunidade de visualizar o melhor que a televisão britânica pode fazer? Então acompanha o
resto do texto com um ligeiro acenar de consentimento e aprovação de quem recebeu o toque de Midas.

Se fores um pré-iluminado, por favor não desesperes e salta imediatamente para o ponto seguinte, a
salvação está a caminho! Porquê que ainda não viste “Sherlock”?
A resposta para esta pergunta é muito simples: porque ainda não tiveste o discernimento, o bom senso e um conselho amigo que te orientasse no bom caminho. Estás sob uma maré de ignorância, mas é para isso que eu cá estou. Ideia fundamental a reter: “Sherlock” não é apenas uma tablete de chocolate com doze quadradinhos, é um orgasmo mental tântrico (porque dura hora e meia). É um delight para os olhos e para o cérebro que agradará ao menino e à menina. Quero acreditar de que se trata apenas de desconhecimento e que não és um daqueles que fugiu da série pelo seu tamanho, país de origem ou
falta de desejo em ser desafiado. Por favor, diz-me que não é esse o caso, quero que sejamos amigos…
Porque é tão brilhante? O texto ficaria bem mais curto se tivesse de enumerar as razões para não veres a série (cingia-me a um “ponto final”). Dizer que é algo como nunca viste é talvez demasiado simplista e cliché, mas é também o elogio mais adequado que posso fazer. Nos primeiros instantes do piloto percebemos imediatamente que vamos ser, acima de tudo, desafiados. Esquece qualquer tarefa extra que tenhas planeado para a duração do episódio, não vais ter capacidade de fazer mais nada, mesmo que sejas daquelas pessoas que se gaba das suas capacidades de multitarefa. Sherlock não investiga um caso, investiga vários, em simultâneo, entre dezenas de outras atividades do seu dia a dia. Nada é feito ao acaso, nada é deixado ao acaso. Tudo o que vemos no ecrã é fruto de estudo e olhar minucioso, para que tudo encaixe num belo puzzle no final.

Se sentires que tens de pausar o episódio ocasionalmente, não te sintas envergonhado, afinal de contas não moras em 221B Baker Street e és apenas humano. Este Holmes moderno abraça os novos tempos com todas as mordomias que a era oferece (telemóveis, sms, emails, DNA), sem nunca esquecer aquilo que tornou o nome Sherlock lendário: a dedução, o raciocínio, a inteligência, perspicácia e, acima de tudo, o “olho” para o detalhe. O único prego ferrugento que pode ser pregado nesta casa é a incapacidade da série em manter o pico de excelência constantemente, mas acaba assim a ser vítima do seu próprio sucesso e das expectativas a que é sujeita.

Depois de tudo isto, podia elogiar o absolutamente brilhante Benedict Cumberbatch pela representação de um personagem que ele redefiniu e que o lançou nos grandes palcos mundiais, podia engrandecer o mais do que competente, se bem mais discreto, Martin Freeman pelo seu Watson e até destacar Andrew Scott pelo ácido e delicioso Moriarty. Podia sublinhar o humor subliminar e o ritmo frenético, enaltecer a escrita de Steven Moffat e a realização perspicaz que nos acompanha e desafia…, mas a verdade é que se até aqui ainda não te convenci a começar em “A Study in Pink” e acabar em “The Final Problem”, passando pelo hino à excelência que é “Scandal in Belgravia” (com a magnífica Lara Pulver), então é porque não faz mesmo parte dos teus planos fazê-lo. Nesse caso, levanto ligeiramente o meu chapéu, desejo-te bom dia, viro as costas e vou à minha vida, murmurando entre dentes o quanto este mundo está perdido e desejando que Darwin esteja certo sobre a Evolução: os mais fracos não sobrevivem. No final de tudo só há um dogma para um verdadeiro amante da televisão (e do cinema também, coitados): “Sherlock” não é obrigatório, é Elementar!

Os especialistas do Conteúdo da Cultura Pop.

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