Fato Macaco: Análise ao Documentário

Realizado por André Costa e protagonizado por Rui Paixão, Fato de Macaco é um documentário ambientado na cidade de Setúbal, reflete sobre a vida de alguns bairros da cidade, como “Pescadores” e “Grito do Povo”, e das lutas passadas que marcaram as condições laborais das gerações presentes e futuras. Nestes dois bairros, vivem apenas 1500 pessoas, a maior parte com conexões à pesca e à indústria das conservas. Esta não é uma história normal, é uma história com lutas, contra a ditadura, pelos direitos sociais e laborais e pela agitação criativa do pós-25 de abril.

O documentário apenas apresenta um personagem com um fato-macaco, o de Rui Paixão, que recolhe o lixo e dispõem-se a ouvir os testemunhos dos habitantes locais. Sem existir uma explicação para a sua presença, este misterioso personagem ouve histórias destes locais, as suas lutas e os lamentos das más condições de trabalho que este povo passa em vários sectores de actividade da zona. Apesar de não apresentar uma resposta sonora ou gestual, este personagem comunica com a dança e com todas as suas expressões corporais. O coração dos habitantes do bairro expande-se ao torná-lo um deles, e apenas aceitar que este “ser” é como se fosse família.

Outro tema que podemos retirar do documentário, é a precariedade dos artistas de rua, que vão sobrevivendo de esmolas e enquanto habitam em condições horríveis. Assim como o realizador afirma “… faltam mais artistas de bairro, mais artistas que saiam das grandes cidades, que saiam dos seus egos de entregar produtos que acabam em três dias.”.

Tecnicamente, o documentário exerce bem o seu formato e apresenta um estilo caseiro, com uma iluminação bem natural e no estilo do “guião” improvisado, assim como o próprio Rui Paixão descrever: “Sem guião, uma equipa de filmagens e uma personagem invadem os bairros para, em conjunto com a comunidade, gravarem um filme. Em conquista do inútil dando voz ao que importa, houve histórias partilhadas a “falar para o boneco” e “a equipa regressou a casa com um arrepio de um projeto honesto e belo cumprido”; que conecta bastante o espectador e esta comunidade de Setúbal, fazendo no final, após risos e lágrimas, aproximarmo-nos demasiado de um povo que 48 minutos antes não sabíamos que existia.

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