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Cinema

“Dune – Duna” – Um épico por mérito próprio

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(Sem spoilers!)

Numa altura em que muitas pessoas se questionam se ir ao cinema ainda vale a pena, Denis Villeneuve mostra que ainda há razões para sairmos do conforto do lar e abraçar a magia da sala de cinema. Todos gostamos de um take-away, mas quando o prato final é Dune, tem de ser apreciado e degustado no restaurante do criador.

Irei alongar-me em breve sobre os pequenos detalhes do filme, história, easter eggs e outras curiosidades, mas o mais importante para poder desfrutar de Dune é uma mente aberta. Há a obra original, adaptações anteriores, comics e a ameaça que paira no ar de que é mais uma novela espacial que ameaça expandir-se em franchise, mas este Dune não deve assustar. Apesar de muitos termos alienígenas, que os há, o filme dedica-se apenas ao ao essencial para nos emergir. Bastante expositivo em certas alturas, sem tentar disfarçar, nunca aborrece ou nos faz sentir perdidos. Seria muito fácil cair na areia movediça de tentar explicar tudo sobre as Freiras/Bruxas/Jedi Bene Gesserit, por exemplo, mas ao mostrar mais do que tentar explicar, o filme transmite o que é preciso saber. Para isso também contribui o passo contemplativo da narrativa, que joga a favor e contra o filme…

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A grande vencedora desse ritmo é claramente a cinematografia. Para um realizador com poucos filmes, há muito que Villeneuve é um favorito cá em casa. É como se “Arrival”, e principalmente “Blade Runner 2049”, fossem dois ensaios para este projeto de sonho. O que vemos em cada cena foi pensado até à exaustão e é exatamente o que o realizador nos quer mostrar, quer o plano apertado e centrado ao pormenor, quer seja em usar a imensidão do deserto como personagem. Continua o amor do realizador pelo amarelo, que contrasta com o preto dos vilões e o azul da esperança nos olhos dos Fremen.

Adoraria experienciar este filme sem diálogo, apenas com a beleza da fotografia e o assombroso ambiente sonoro. Seria um espetáculo por si só. Para isso também muito ajuda Hans Zimmer e toda a gente que ajuda a encher-nos os ouvidos de emoção, que enaltece ainda mais o que os olhos veem. Quer seja com o simples aterrar de uma nave ou os cânticos dos Fremen, tudo provoca uma reacção. Honestamente, estou disposto a ver tudo o que Denis faça de futuro, desejando ao máximo que seja a Parte 2.

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No outro lado do espectro está exatamente esse pequeno grande detalhe, ser a Parte 1. Há uma certa acusação de engodo de que esta é só meia história, chegando ao ponto de se não se levar a sério o filme por ser apenas metade de alguma coisa. O meu problema não é esse. Venho do mundo das séries, onde um episódio acabar sem ter claramente três arcos definidos ou um laço no fim não me chateia (honestamente, surpreende-me que incomode tanta gente, ainda).

O problema que se levanta é que Denis percebeu, e bem, que esta história não podia ser amassada num filme, dando origem ao desafio de tornar esta primeira parte ainda assim épica por mérito próprio. Na tentativa de o alcançar, há algum exagero de sequências em slow motion, uma repetição despropositada das cenas em que Zendaya está a gravar um anúncio a perfumes nas dunas de Arakis e uma quebra bastante pronunciada no ritmo quando Paul e Lady Jessica se aventuram no deserto. É certo que mesmo nesses momentos a narrativa avança e a cinematografia fascina, mas ainda assim é importante salientar que talvez o filme não precisasse de duas horas e meia de duração. No final é certo que saímos da sala com a percepção que temos areia nos sapatos, tal é a imersão, e um filme mais “contido” talvez não transmitisse o mesmo sentimento. Confesso-me dividido.

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Por esta altura, começaria a falar do elenco, enumerando alguns nomes e salientando a sua performance. Completamente desnecessário. É um elenco vasto, só com nomes conhecidos e reconhecidos pelo seu talento. O que Villeneuve se “limitou” a fazer foi dar-lhes palavras e planos certos para os deixar brilhar. Não há falhas e todos os excelentes artistas são excelentes. Há, no entanto, personagens que aparecem bem menos do que algum publico poderia desejar. Isto não é uma falha, apenas uma chamada de atenção caso entrem na sala na esperança de ver Zendaya e Barden com frequência.

Queria ainda assim salientar o trabalho de Timothée Chalamet, porque o filme deposita tanto peso nos seus ombros que seria fácil tudo desabar como um castelo de areia se não estivesse à altura. É frágil quando tem de ser, forte quando é preciso, assertivo quando o seu papel de Messias assim o determina. O “pequenito” sem músculos carrega o filme e o peso da esperança de uma galáxia, fazendo-o sem esforço. É um dos grandes.

Analise

 

 

Em parceria com: Fnac 

 

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