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Cinema

“MATRIX RESURRECTIONS”, MAU DEMAIS PARA SER REAL

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A pergunta que me surge no final deste filme: qual é a visão real dos criadores? Matrix original, Reloaded/Revolutions, ou este Resurrections?

Lana Wachowski faz-se acompanhar de David Mitchell (Cloud Atlas) e Aleksandar Hemon (Sense 8) para nos apresentar esta história – o que explica a duração de duas horas e meia. A realização de Wachowski, desta vez a solo, é uma sombra da visão anterior. Com cenas desinspiradas, lutas claustrofóbicas e um ato final desinspirado e completamente indiferenciável de qualquer outro filme de ação.

Fico sem entender o que se queria alcançar com este filme. Aprofundar a filosofia dos anteriores? Explicar os originais para quem, 20 anos depois, ainda não os entendeu? Dar uma auto-palmada nas costas por ter revolucionado o cinema? O que sei é que o resultado final não me entra na cabeça, nem espetando uma agulha diretamente na nuca.

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A grande novidade que este capítulo se propõe contar é que o poder de Neo sofre uma “multiplicação” sempre que está próximo de Trinity. Neo deixa de ser o “The One” para ser o “Yang”. Talvez esta ascensão de Trinity seja um sinal dos tempos, de empowerment feminino e igualdade de género. Talvez seja uma história para convencer Moss a regressar ao papel… Seja qual for o motivo, a minha objeção é apenas uma: Matrix nunca foi sobre o poder de Neo quando este está junto de Trinity. “The Matrix” é uma viagem, por vezes filosofal, pelo que significa ser humano. Sobre a viagem de uma figura “messiânica” que desperta a mente de outros e luta para lhes oferecer a possibilidade de escolha. Morpheus, Trinity (e tantos outros) foram os degraus que permitiram Neo escalar a montanha e mostrar a “luz”. Colocar Trinity como Neo 2 é só a última estocada no fan service.

Como amante da trilogia original, não vejo de que modo este filme possa agradar a alguém. É tudo tão triturado em papa para o mais ignorante perceber que nem se apresenta como um desafio mental/filosófico. A primeira metade do filme é tão meta que só faltava Neo piscar o olho para a câmara enquanto o Deadpool aparece lá atrás. Já a subtileza da critica à sociedade atual passa por ter o Merovingian a dizer “Face-Zucker-Suck”. O único benefício é que Keanu e Moss mostram mais química neste filme do que em qualquer outro momento do franchise.

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Quando o filme deixa de nos enfiar cenas dos filmes anteriores pela goela abaixo, chegando ao ponto de os projetar, literalmente, como pano de fundo, ou quando não há atores novos a personificar personagens velhas, o que sobra é ação desinspirada, atabalhoada e, obviamente, repetida. Nunca esperei ver, fruto da mente Wachowski, um filme em que sei exatamente quando uma personagem vai dar um murro numa coluna ou soquear repetidamente outra na barriga. Minto, sei, quando revejo o primeiro filme pela 15º vez…

Se por esta altura se interrogam o que há de fresco neste filme, não vos critico. O que há é máquinas com cores diferentes (porque toda a gente sabe que máquinas más usam LED’s vermelhos e as boazinhas usam azuis), há capitães de naves que não têm idade para ser sargentos (ainda para mais em tempo de paz, em que não há risco de gente morrer constantemente), e há dois atores excelentes que são amarrados a nomes familiares, e em vez de lhes ser permitido voar livremente para interpretar papeis por mérito próprio. Tanto Jonathan Groff (Smith) e Yahya Abdul-Mateen II (Morpheus) – e até Neil Patrick Harris como Analyst/Arquitecto – fazem-nos comparar constantemente com as versões originais. Não mereciam eles, nem nós, passar por isto. Jessica Henwick (Bugs) é outra fonte de frescura, mas não chega para salvar.

O fim? É uma espécie de assalto à torre fabricada em cinco minutos, usando bypasss de ligação à Matrix, nanorobots, máquinas que mudaram de aliança e uma jovem capitã… Não, a ironia de salvar o passado usando apenas o que este filme introduziu não me escapa!

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Talvez esta seja uma péssima altura do ano para criticar nascimentos e ressurreições. Mas o título, analisando bem, assenta neste filme como uma luva: há coisas que têm de permanecer mortas, porque quando se tenta dar choques para reanimar algo que foi construído com pedaços de outros corpos/filmes, o resultado é o monstro de Frankenstein.

Adorava ter gostado deste filme, e tenho a noção que para quem lê esta análise devo soar ressabiado por mais um filme ter assaltado a minha nostalgia. Como se este filme estivesse derrotado à partida porque fosse qual fosse o resultado, nunca conseguiria alcançar os calcanhares dos originais. Porque simplesmente é impossível viver sob a pressão da expectativa de milhões de nerds. A verdade é, no entanto, tão simples como escolher o comprimido azul ou vermelho: Matrix Ressurections é um mau filme por mérito próprio.

 

 

 

 

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