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Hi Bye Mama! – aceitarias voltar à vida mesmo que isso implicasse mudar a vida dos teus?

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Quando uma caixa de lenços faciais não chega para assistir a um k-drama.

Sou daquelas pessoas que chora a ver séries, animes e filmes e até a ler. Chorei em Clannad, Violet Evergreen, Your Lie in April, Anatomia de Grey, Sobrenatural, até em Fairy Tail e em Hospital Playlist. Mas é choro nos momentos dramáticos que vão aparecendo, não do início ao fim. O único filme em que chorei desde os primeiros minutos, que tenha visto até agora, foi Grave of the Fireflies (O Túmulo dos Pirilampos). God, quem viu sabe que aquilo faz mal ao coração, especialmente quando logo na primeira cena soma-se um mais um e se percebe a história e o final. Em Hi Bye Mama! a caixa de lenços chegou ao fim pouco depois de meio (mas também se pode dever ao facto de ter alergias x.x).

Hi Bye Mama! é um drama coreano, com 16 episódios, que se encontra na Netflix. É um bocado pesado, com mensagens em todos os episódios. Nem todos vão gostar, especialmente quem esteja à procura de algo “light and bright” para os seus dias. Nesta altura pandémica, em que a humanidade se está a alterar, em que muitos foram afetados de diversas maneiras, em que muitos perderam alguém de maneira repentina sem qualquer despedida, este drama apresenta-nos entre outras coisas, a importância da Despedida.

Refletir a realidade a partir da ficção

É um drama que faz refletir e pensar. Não sei se vocês são afetados pelo que vêm. Se quando a mensagem bate no fundo a dizer “olhem o sentido que dão à vida, mudem”, alguém realmente mudou. Mudar é difícil, mas reconhecer que talvez seja melhor mudar, seja melhor alterar algo, dar mais atenção a quem nos é próximo, dar mais importância às pequenas coisas, aos pequenos momentos, é um grande passo.

Hi Bye Mama! apresenta um plot que podia ter tomado vários caminhos. Tem a sua mistura de comédia, drama, romance (ação nem por isso – é um drama familiar), mas é um melodrama que se tenta fixar no que é viver. Podia ter sido um pouco melhor, talvez, diferente especialmente. Mas tem um encanto que é preciso explorar e abraçar.

Segunda chance de vida… com prazo de validade

Kim Tae Hee (Stairway to Heaven) interpreta Cha Yu-Ri, uma mulher que perde a vida de forma inesperada no fim de gestação e que fica na Terra como fantasma, a olhar pela filha Seo Woo (interpretada pelo child actor Seo Woo Jin – devido à sua parecença com a atriz Tae Hee). Após cinco anos, as divindades dão-lhe 49 dias de ressurreição sem explicar porquê (o 49 tem significado, na mitologia as pessoas têm 49 dias de julgamento após a morte e na tradição Budista dão-se 49 dias de preces para o defunto reencarnar, não sei muito sobre o assunto pelo que não vou entrar mais ao pormenor). Começa assim, a jornada de Yu-Ri de regresso à sua vida, pensando que de certo modo é um castigo e julgamento. Ao longo dos episódios são apresentados os momentos da vida de Yu-Ri antes da sua morte, e a forma como o seu marido Jo Gang Hwa (Lee Kyu Hyung – Prison Playbook), a sua melhor amiga Go Hyun Jung (Shin Dong Mi – You Stole My Heart) e a sua família (Kim Mi Kyung [Secret Garden] interpreta a mãe, Park Soo Young, o pai e Kim Mi Soo, a irmã) reagiram à sua morte, lidaram com ela e continuaram a sua vida ao longo dos anos – muitas vezes pela perspetiva de Yu-Ri os estar a observar.

De uma surpresa aliviante a um adeus amargo

Interpretações magníficas de todos os atores, incluindo os fantasmas que se tornaram amigos de Yu-Ri no Columbário (local onde estão guardadas as urnas que faz parte do Templo ou do cemitério). O drama podia ter desenvolvido mais a história de alguns destes fantasmas, mas compreendo que também não havia necessidade.

A banda sonora esteve bastante bem, assim como os cenários. Tem bastante colocação de produtos – publicidade, como é costume dos coreanos. Tenho de mencionar um pequeno easter egg, que aparece a dada altura, para quem viu Oh My Ghostess! (está na Netflix também). Vão ficar maravilhados com duas guests appearances (pista: uma delas até entrou em Parasite).

Mas o mais importante em Hi Bye Mama! é a forma como diretamente nos faz pensar sobre a nossa própria vida, o que faríamos no lugar das personagens, se o que estamos a fazer é bom, é suficiente. A forma como nos apresenta o que é amar, o que é viver, o que é ter arrependimentos, o que é dar importância o que nos rodeia. Será que morremos sempre com algum arrependimento, será que morrer e ficar a ver quem ficou é que nos traz arrependimentos? Não só é importante o adeus final a quem nos rodeia, mas também o adeus a nós próprios.

O conto coreano imprevisto

Com os dramas coreanos nunca podemos propriamente ficar certos de como o plot vai decorrer. Os criadores coreanos têm, na minha opinião, uma capacidade espetacular e muito diferente dos ocidentais de se tornarem imprevisíveis com o decorrer das histórias (qualquer um que esteja a ver The Penthouse sabe a que me refiro). Claro que pensamos sempre isto vai ser assim, vai acabar assim, e talvez até se adivinhe. Neste drama, mesmo prevendo, mais ou menos, o fim, não se deixa de desejar que fosse diferente, que os criadores tivessem tomado outro rumo. Todavia, penso que tornaram o drama mais realista que ficção, ao não aprofundarem algumas storylines como podiam, ao parecer que estavam a tomar um rumo mais bright e voltaram para algo completamente mundano, focando-se no rumo da protagonista, dos seus sacrifícios, do seu sofrimento e dos seus ente-queridos e do dilema do ficar e do partir.

Aconselho a ver, claro que acompanhados de caixas de lenços faciais ou toalhas, se preferirem. E termino com algumas das últimas frases do k-drama:

“Quando chegarem ao Céu, Deus irá fazer-vos duas perguntas. Se a vossa resposta a ambas for ‘sim’, poderão renascer humanos na próxima vida.

Uma pergunta é: ‘Foste feliz na tua vida?’

A outra pergunta é: ‘Fizeste os outros felizes?’”

 

 

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Mais conhecida como Vicky, é bioantropóloga com um enorme gosto por ossos, esqueletos e evolução humana. Tem uma paixão desde que nasceu pela cultura popular, de literatura ao cinema. Uma geek assumida e orgulhosa! O seu hobby preferido atualmente é perder-se na cultura popular asiática, especialmente nos anime e K-dramas.

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