Cinema
Viúva Negra – O início da Fase 4 do MCU
Depois de um longo ano de espera, chega-nos finalmente “Viúva Negra” (ou “Black Widow” no seu título original).
E não, embora tenhamos por Portugal a Latrodectus tredecimguttatus, a espécie de aranha mais conhecida por viúva-negra Mediterrânica, não me refiro ao aracnídeo que tem por hábito devorar o macho após a cópula. Falo-vos do último e mais aguardado filme da Marvel Studios, desta vez com Natasha Romanoff, uma das mais talentosas espias do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), como sua protagonista.
Após inúmeros filmes a título individual centrados nas estórias do Capitão América, Homem de Ferro, Thor e até da Capitã Marvel, já estava mais do que na altura de termos um filme dedicado a esta poderosa Vingadora, interpretada pela veterana Scarlett Johansson. E que bem acompanhada que ela está. Este filme, que na timeline do MCU ocorre entre o final da ação de “Os Vingadores: Guerra Civil” e “Os Vingadores: Guerra do Infinito”, mostra-nos uma Natasha Romanoff em fuga, e que se vê sozinha pela primeira vez. Explorando as noções de livre arbítrio e manipulação, e o que realmente define uma família, o filme “Viúva Negra” lança-nos numa viagem com alguma turbulência pelas fortes ligações que prendem a Viúva Negra ao seu passado enquanto espia russa.
É-nos apresentado um verdadeiro elenco de luxo: a Johansson juntam-se Florence Pugh, enquanto Yelena Belova, a irmã mais nova; David Harbour enquanto Alexei Shostakov, ou Guardião Vermelho, o pai tosco da família; e Rachel Weisz enquanto Melina Vostokoff, a mãe cientista. Temos também o afável O-T Fagbenle (Rick Manson), o terrível Ray Winstone (Dreykov) e ainda uma misteriosa Olga Kurylenko a desempenhar outra personagem muito importante para a narrativa, mas que terão que ver o filme para descobrirem de quem se trata. Apenas posso desvendar que está relacionada com o que aconteceu em Budapeste e mais não digo!
“Viúva Negra” é produzido por Kevin Feige, o big boss da Marvel Studios, escrito por Eric Pearson, e realizado por uma das novas apostas da Marvel, a australiana Cate Shortland, que com apenas três filmes no seu reportório, já é uma veterana do cinema independente e de circuitos de festival. Será este seu quarto filme um sucesso de bilheteiras?
A origem da Viúva Negra
Para aqueles que não estão completamente inteirados da estória de Natasha Romanoff, aka Viúva Negra, ou se já se esqueceram de tudo o que se sucedeu nas últimas aventuras dentro da MCU, façamos então uma pequena revisão da matéria.
Muito pouco ou mesmo quase nada se sabe acerca da família de Nat ou da sua infância. Nascida na Rússia em 1984, foi uma das crianças recrutadas pelo General Dreykov para fazer parte de um programa militar soviético onde raparigas adolescentes eram treinadas para se tornarem nas espias e assassinas mais letais à face da terra. Este programa, denominado por Sala Vermelha, era controlado por uma tal de Madame B. Natasha tornou-se numa aluna exemplar, subindo na escala hierárquica do programa com uma enorme rapidez. Só que havia um pequeno senão: para que esta pudesse concluir o programa “com distinção”, teria que passar por uma “cerimónia” que consistia na remoção dos seus aparelhos reprodutores, de modo a ficar estéril. Sem a possibilidade de constituir família no seu horizonte, Nat teria menos distrações e o seu foco nas missões seria imbatível.
Só que o tiro saiu-lhes pela culatra e tudo isto culminou com a Viúva Negra a desertar o KGB e a ser recrutada por Nick Fury, juntando-se aos Agentes S.H.I.E.L.D. E o resto já sabem: torna-se bff de Clint Barton aka Hawkeye e junta-se aos Vingadores.
Um thriller que não desilude
Esta foi a minha primeira vez dentro de uma sala de cinema desde que a pandemia assolou o planeta Terra. Se foi uma boa escolha? Sim, sem dúvida! Teve tudo o que um filme de ação e aventura deve ter: perseguições em telhados, perseguições em carros, perseguições em prisões e perseguições em aviões. Há perseguições para todos os gostos. Mas este filme não é só ação, explora também um lado mais pessoal e familiar desta Vingadora. E quando os quatro membros desta família disfuncional se juntam, momentos épicos repletos de comédia e estilo estão garantidos. Já mencionei os porcos amestrados?
A grande revelação, que nem o é porque ela já nos tem vindo a habituar a magníficas representações nos últimos anos, é, sem dúvida, Florence Pugh. Aliada a uma fantástica escrita, Pugh presenteia-nos com uma jovem Yelena magoada pelo abandono por parte da sua irmã mais velha. Mas tal como Melina lhes ensinou “pain makes you stronger” – e estas duas espias são duras de roer. A química entre as duas é mais do que óbvia e as suas interações ao longo do filme fazem jus à relação tempestuosa, mas que ao mesmo tempo demonstra carinho e preocupação, de duas irmãs que já não se vêem há mais de vinte anos. E tal como uma verdadeira irmã mais nova o deve ser, esta Yelena tem sempre uma piada à custa da irmã (sobre as suas poses de Vingadora demasiado forçadas ou sobre os seus planos foleiros para fugir a perseguições) na ponta da língua.
Não posso também deixar de mencionar a excelente escolha musical ao longo de “Viúva Negra”, especialmente uma versão de “Teen Spirit”, dos Nirvana (aqui interpretada por Malia J e o coletivo Think Up Anger), que aparece no início do filme a acompanhar uma montagem de imagens da infância atribulada de Nat e Yelena enquanto jovens recrutas da Sala Vermelha, e que nos deixa logo muito entusiasmados para o restante filme.
Tal como a filmografia da Marvel nos tem vindo a habituar, não se esqueçam de esperar pelo fim dos créditos finais para visionarem uma cena extra. É um vislumbrar do que aí vem (e que teria mais mística não fossem os vários adiamentos do filme). A verdade é que a pandemia veio trocar as voltas à programação que a Marvel Studios tinha prevista para 2021, e surpresas e personagens novas que inicialmente seriam introduzidas pela primeira vez nas salas de cinema, acabam por serem desvendadas através das séries que a empresa tem vindo a criar.
Este filme mostra-nos, uma vez mais, que não são precisos super poderes para se ser um super herói. Trata-se de um filme onde o todo é maior que a soma das partes, mas continuo convencida que a Scarlett Johansson merecia ainda mais protagonismo. Afinal, são já mais de dez anos a encarnar esta Vingadora, que foi sempre relegada para segundo plano, servindo apenas de sidekick dos seus colegas masculinos e que, sendo introduzida no MCU em “Homem de Ferro 2” praticamente como um estereótipo sexista, nunca foi verdadeiramente desenvolvida.
Teoricamente, Natasha está morta, mas o MCU tem sempre surpresas na manga. Será esta a última vez que a iremos ver a encarnar a Viúva Negra nos grandes ecrãs? Estou a fazer figas que não, porque esta dupla de irmãs ainda tem muito para dar.
O filme já está disponível nas salas de cinema portuguesas e na plataforma de streaming da Disney+, com acesso premium, a um custo adicional, a partir de 9 de julho.