Cinema
Nomadland – Sobreviver na América | Um honesto road movie que poderá valer a Frances McDormand o seu 3.º Óscar!
A reabertura dos cinemas portugueses traz-nos finalmente Nomadland, o filme mais galardoado do ano!
Não será certamente esta crítica que vos irá tirar do sofá para ir ao cinema ver Nomadland. Nada do que eu possa dizer se poderá equiparar ao poder da longa lista de prémios que o filme tem vindo a acumular ao longo do último ano: Nomadland foi o vencedor do Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza, ganhou os Globos de Ouro para Melhor Filme e Melhor Realizador, venceu 4 prémios BAFTA para Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Atriz e Melhor Fotografia e ganhou 4 Critics’ Choice Awards nas categorias de Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Fotografia e Melhor Argumento Adaptado, entre muitos outros. Está também nomeado para 6 Óscares, incluindo Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Atriz.
Quando a esmola é grande, o pobre desconfia. E esta longa enumeração de prémios já conquistados por Nomadland é de deixar qualquer um de pé atrás. Será este filme assim tão bom para arrecadar estes prémios todos? Ou serão estes prémios fruto de um enorme lobby por parte das produtoras e distribuidoras do filme, numa tentativa de dar a volta ao péssimo ano que a indústria cinematográfica sofreu em 2020? Talvez seja o irritante espírito hipster que há em mim, mas quando vejo algo a ter um enorme sucesso comercial começo logo a criar-lhe uma certa resistência. Estamos perante a receita perfeita para a desilusão: é difícil gostar realmente de um filme quando se forma uma expectativa tão grande à sua volta. Nunca saímos verdadeiramente satisfeitos da sala de cinema.
Chloé Zhao e Frances McDormand provaram-me o contrário!
Uma América deixada ao abandono
Nomadland, baseado num livro de 2017 de Jessica Bruder, conta a estória de alguém que perdeu tudo o que tinha. Quando a exploração da mina para onde trabalhava abre falência, Fern, recentemente viúva, sem emprego fixo ou uma comunidade em que se apoiar, não vê outra alternativa senão vender as suas posses, juntar armas e bagagens e partir de Nevada em busca de um futuro melhor. A sua modesta carrinha branca torna-se o seu lar. Governa-se com empregos temporários e sazonais, e encontra uma nova comunidade nos nómadas norte-americanos que viajam pelos Estados Unidos nas suas caravanas.
Seguimos Fern estrada fora ao longo de uma jornada de um ano pelo grandioso Oeste Americano: começamos em plena época de Natal a trabalhar nos armazéns da Amazon no sul da Califórnia; passamos o inverno no deserto árido do Arizona; paramos na Dakota do Sul para ajudar nos campos de férias de verão; seguimos caminho até à colheita de beterraba no Nebraska e, por fim, regressamos à casa de partida – os armazéns da Amazon, onde Fern regressa para empacotar as prendas de Natal de milhares de norte-americanos.
A crise económica de 2008 veio abalar por completo as realidades de milhares de norte-americanos. Muitos, já em idade de reforma, viram numa vida nómada, com a casa às costas, a sua única forma de sobrevivência e uma maneira de obterem alguma estabilidade financeira. Esta nova forma de viver trouxe a Fern uma nova independência e tornou-se na oportunidade perfeita para experienciar novas coisas, visitar lugares onde nunca tinha ido, conviver com novas comunidades e aprender muitas novas estórias de vida.
Fern, uma mulher resiliente, de sorriso fechado e resguardado, faz uma viagem interior paralelamente à sua viagem física. Está à procura de um equilíbrio na sua vida. É uma mulher solitária, mas isso não a torna uma pessoa só e desamparada. Apesar do seu novo estilo de vida, Fern começa a criar uma ligação com Dave (David Strathairn), outro nómada que vai encontrando inúmeras vezes ao longo da sua viagem, e que lhe permite voltar a criar raízes, ainda que contra a sua vontade interior.
Um lugar onde a ficção e o documentário se fundem
Apesar da sua (ainda) curta carreira, Chloé Zhao tornou-se numa das minhas realizadoras contemporâneas favoritas quando nos presenteou com a sua segunda longa-metragem, The Rider, um tocante western de 2017 sobre um jovem cowboy à procura da sua identidade após sofrer um grave acidente com um dos seus cavalos.
É fácil então concluir que eu esperava ansiosamente por este seu novo filme. E, apesar de ter um nome mais sonante na sua protagonista, o que poderia significar um afastamento das suas raízes nos filmes independentes, a genuinidade e a entrega da autora não ficaram de todo aquém das minhas expectativas. A sua linguagem e estilo cinematográfico muito próprio – a preferência da luz natural e a possibilidade de filmarem em 360º, os não-atores, as paisagens deslumbrantes, a exploração da relação do ser humano com a natureza que o rodeia – continuam bastante presentes. Zhao mantem-se fiel a si mesma.
Nomadland mostra-nos estórias muito pessoais, em que os seus intervenientes, na sua maioria não-atores, representam uma versão não muito distante de si mesmos. Um olhar curioso e astuto, mas que não nos deixa uma sensação de invasão. Imagens que respiram, e que nos possibilitam uma introspeção cuidada daquilo que nos está a ser contado.
Chloé Zhao, o novo membro da família Marvel
Chloé Zhao tem agora um novo desafio nas suas mãos: Eternals, aquele que será o 26.º filme do MCU da Marvel Studios, com estreia prevista ainda este ano. A realizadora seguirá assim as gigantes passadas de Niki Caro, Cathy Yan, Cate Shortland e Patty Jenkins, numa transição dos chamados “filmes de festival” para filmes comerciais líderes de bilheteiras, repletos de estrelas de Hollywood e com orçamentos astronómicos.
Como se traduzirá o cinema independente de Zhao num universo de super-heróis e pipocas? A resposta apenas nos será dada em novembro, mas eu lá estarei com grande curiosidade na sala de cinema para a receber junto da família Marvel.
Será que a dupla Zhao e McDormand conseguirá arrecadar mais umas quantas estatuetas? Então prepara-te a rigor e não faltes à cerimónia dos Óscares, transmitida em direto na RTP este domingo à noite, dia 25 de Abril!
Nomadland já pode ser visto nos cinemas portugueses. Vem viver esta aventura com a Fern pelo Oeste Americano!
Publicado por: Joana Alves
Nerd introvertida, mas aventureira, com uma licenciatura em Cinema. Fonte constante de referências e memes. Tem um sentido de humor subtil e rebuscado e podem sempre contar com ela para uma gafe tosca ou uma queda espalhafatosa quando precisam de uma boa gargalhada. Nunca recusa uma fatia de bolo.
eco blankets
14 Novembro de 2024 at 08:46
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